sexta-feira, 10 de junho de 2016

BIME #12 - Luna.

Oi, meus amores. Não gosto de falar muito no início de posts como esse, então yeh, espero que vocês estejam tendo um dia bom e que, se esse não for o caso, estejam cuidando de si mesmo com muito chá e vídeos de gatinho no youtube. :-)



Mãe, pai. Olá. Eu sou a dor de seu filho gay, as maquiagens escondidas de sua menina trans. Sou segredos guardados de uma criança não-binária. Eu saúdo à vocês. Sutilmente, porém. Discreta. Quase que em silêncio. Muito contida e com medo do que irão pensar, dando pistas leves no meio de conversas na hora do almoço ou na ida de carro para a escola. Uma vez, fui ousada o bastante para erguer o queixo e dirigir-lhe a palavra; guardo esse dia no fundo do armário para onde voltei. Quando vocês me descobriram, me tornei terror. Os gritos que me direcionavam são hoje rugidos com minha própria voz à meu filho, cis e hétero, quando eu o pego mexendo nas maquiagens de sua irmã. Me tornei, aos poucos, essa irmã lésbica e reprimida, com medo de vocês, com medo da própria sombra, com medo de sentir medo. Tanto medo. Sou o terror da família tradicional. O sermão do padre um dia lhes disse que eu era do demônio. Como posso ser dele, se sou de vocês? Depois disso, vocês gritaram comigo, um homem, ao que eu lhes apresentava meus dois parceiros. Um deles era pan, o outro bi. Para vocês não importava, éramos todos gays. Filhos do demônio. Mas não são vocês os meus pais? Uma vez o senhor olhou para mim, filha assex, baixou a cabeça e disse que era sua a culpa de ter uma filha freira. Freira por quê, se sou ateia?, perguntei. Vocês ainda se culpam pelo que me tornei. Por ser homem gay, uma mulher trans, genderfluid, demi. Às vezes nem nome tenho. Em alguns casos, Português, homem velho e filho do Latim, ainda não tem o nome traduzido para mim, e eu me seguro em traduções ao pé da letra e no meu inglês enferrujado para dizer pra alguém o que eu sou. Sou agender, senhor. Não quero pronomes, me chame pelo nome. E depois de duas horas explicando a vocês, pai e mãe, o que sou, ainda ouço vocês suspirarem sorrindo e dizerem que estão orgulhosos de sua filha. Acho que vocês começaram a me reconhecer, sim? Faz algum tempo que não me mostro, trancado no fundo do armário após a noite infame onde levantei a hipótese de meu pai homofóbico ter um filho gay. Mãe, pai. Olá. Sou uma comunidade não-cis/hétero inteira. Eu vos saúdo, me introduzo. Sei que vocês não me conheciam antes, então permitam que eu me apresente. Haviam tempos em que nem eu sabia de mim mesmo e agora, finalmente e com coragem, digo à vocês: Mãe, pai. Olá.

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