quinta-feira, 21 de abril de 2016

"Prima, prima, prima." - Luna.

Eu tava olhando meu Tumblr e me veio a memória de uma das viagens que fiz pra fora e fiquei lembrando de como eu sou capaz de esquecer datas importantes e senhas, mas nunca vou esquecer de um momento ou de uma cena que capturei na cabeça e disse que queria guardar. E eu não sei se isso tá fazendo sentido, mas eu to com sono e resolvi bancar a poeta e escrever sobre os lugares que eu já visitei e o que eles me lembram.



Se Porto for uma memória, então eu lembro de ruas de pedra, em pleno São João, andando com martelos de borracha na mão enquanto vejo uma vitrine com luz amarelada passar seus manequins porque ela é rolante. Eu lembro da capela de comemoração, e de milho embora tenha certeza que isso sou só eu misturando datas diferentes.

Se Bruxelas fosse uma lembrança, eu voltaria a lembrar de calçadas de pedra. Dessa vez, as pedras são todas desarrumadas e mal colocadas, como se a pessoa que as colocou ali tivesse enfiado tudo descuidadamente e quando viu que sobravam espaços tentou encaixar mais. Eu lembro de andar pela rua com Waffle na mão e açúcar nos dedos, de meu pai do meu lado e também do cropped verde e calça de moletom que eu usei no verão de lá.

Se Paris for uma imagem, eu vou lembrar de uma árvore, a caminho da Torre Eiffel, a segunda vez que eu fui lá. Coitado dos galhos, lutam para cobrir sua magnitude, mas a torre se estende pelo céu e a gente precisa espichar o pescoço pra ver sua ponta. Lá em cima, por sua vez, eu vou lembrar do teto dourado onde minha mãe me disse que Napoleão estava enterrado, da cidade universitária e de jardins cheios de verdes que eu talvez nem tenha chegado a visitar por inteiro.

Se Roma fosse uma memória, eu lembro de frio e branco, embora tenha ido no verão lá. Eu lembro do restaurante onde tive meu primeiro almoço, parecia uma caverna e quando pedi um macarrão, o moço me trouxe um pedaço pequeno para fazer graça. Lembro de um moletom amarrado na cintura e da sorveteria na frente desse restaurante. Um gelato, por favor. Lembro de paredes de vidro e luzes da cidade numa noite em que fomos jantar fora, e de passar pelo Coliseu só de carro, vendo a história dos gladiadores na minha frente através de vidros molhados de chuva.

Se Madrid me lembra alguma coisa, é o calor e um vestido roxo e alguma máquina com botões para onde minha mãe me arrastou e que eu tenho certeza que nos fazia subir para algum lugar, e que não era um telefone. Eu lembro da bola de futebol do meu irmão, de vê-lo brincando com dois espanhóis mais velhos com os passos desajeitados de criança de 2 anos. Lembro do trenzinho que ele comprou lá, e de tê-lo observado de perto enquanto passava por uma região de árvores e sombra.

Se a Rússia me traz alguma lembrança, é a dos ombros retos do meu avô enquanto ele marchava por toda a cidade. Eu acho que ele não percebeu que bateu continência por toda Moscou. Lembro de prima, prima, prima. Frente, frente, frente. A moradora local que mesmo não entendo nada do que a gente falava, e tampouco o homem para quem a gente pedia indicação, parou e nos mostrou com o dedo para onde devíamos ir - e prima, prima, prima. Lembro do restaurante chique em que paramos para comer lá da primeira vez, e que depois desse eu só comi strogonoff num restaurante de lá que lembro ser vermelho a entrada (ou talvez tivesse uma tenda verde), mas que do nome passo longe. Lembro das ruas coloridas de São Petersburgo, do carpete empoeirado do hotel, de ter terminado o Cálice de Fogo lá e de ouvir meu pai tentando decidir que roupa devíamos usar (quente ou frio?) pelo que as pessoas vestiam lá fora.

Já da China, memória mais recente, eu lembro dos prédios altos com suas antenas chegando ao céu e cores néon que jorravam pela cidade quando a noite caía. Lembro da mulher que me passou a perna e de cores pálidas e da forma como as chinesas se vestiam tão aesthetically pleasing. Lembro de pensar que tudo lá era muito tumblr-ish. Lembro dos Guerreiros Terracota e da chuva que pegamos, da comida apimentada e de como depois de quase quinze dias lá, ninguém mais aguentava comer pimenta e optamos por Pizza Hut pelos próximos dias da nossa estada. Lembro do garoto brasileiro que meu irmão encontrou no ônibus e como ele não parou de falar, de canudos coloridos e do céu cinza cortando por onde passávamos. E lembro também de 24 horas + escalas que nos fizeram chegar lá.

Argentina me lembra fondue. Oi? É. E umas casinhas pacatas que me fazem associar a Bariloche. Buenos Aires me traz logo a lembrança dos legos dispostos num shopping e de como eu só queria ficar lá o tempo todo. Lembro de uma praça e que seu nome tem a ver com flores. Lembro de ruas estreitas e um monumento pegando fogo, e de nós vendo isso pela televisão minutos depois de tê-lo visto ao vivo. Me lembro de uma corrida de carro, da grade que nos impedia de chegar mais perto e de como eu estava com fome e queria ir embora dali. Algo assim.

Inglaterra me lembra ônibus vermelho. E o estúdio do Harry Potter. Do frio que estava e de como tudo era meio cinza e que eu andava que nem uma abelhinha com meu suéter da Lufa-Lufa. Lembro das caras e bocas que fazia para tirar fotos no Estúdio, e de ter me lembrado do quão errada estavam as descrições de Londres que fazia nas minhas fanfics de 2013. Lembro de umas pessoas brincando com fogo no lugar embaixo de onde estávamos, de um sebo e dois exemplares britânicos de Harry Potter. Lembro de fish and chips e do rosto da moça da recepção do hotel quando lhe pedi algo com um inglês que, na época, para mim era perfeitamente compreensível.

Israel me lembra pouca coisa. E eu choro toda vez por isso. Mas lembro do macarrão apimentado que pedi no quarto de hotel, das pessoas da excursão me chamando de mascote e de como foi lá que aprendi a diferença entre Deus e Jesus. Tinha 8 anos. Lembro de terem me dado um lenço rosa e eu tentar arrumá-lo na minha cabeça sem ajuda de ninguém. Lembro de um biquíni que eu morria de vergonha de usar, e de uma piscina gelada. Lembro de pedra e coisa velha e todo o significado religioso por trás disso. Eu nunca me liguei muito nessas coisas. Mas aquela viagem foi essencial para que eu aprendesse pelo menos um pouquinho do que sei hoje, e para um batizado no Rio Jordão, seguindo uma filinha de pessoas que o padre da excursão havia formado para jogar água na cabeça, que finjo até hoje que não aconteceu. Não sei o motivo - implicância.

Mas uma memória que me recorre a todas essas viagens, sem exceção, é o pouso do avião na minha terrinha que chamo de casa. De chegar no Brasil e sentir os olhos lacrimejarem depois de ter os ouvidos cansados de tanto ouvir idioma estrangeiro. De sair do aeroporto e sentir aquele cheiro de Acarajé enchendo meu nariz. Nunca gostei muito de Acarajé, vergonha soteropolitana eu sou, mas toda vez que ponho os pés para fora daquele aeroporto sinto cheiro de acarajé e a vontade é de afundar o nariz numa porçãozinha pequena. Nunca como. Todavia, é esse o sinal que dou ao meu corpo de que estou, finalmente, voltando para casa.

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