domingo, 13 de março de 2016

Crônica (17) - Luna.

Eu sei que devia estar tentando terminar o esquema que fiz da contagem regressiva pro show (é hoje, aaaaaah!!), mas eu vi essa foto no Tumblr e tô querendo escrever alguma coisa há um tempo, então vamos tentar.



As pessoas sempre me questionaram o porquê de nunca comparecer às minhas exposições de arte. Você sempre perguntou porque eu não fazia questão de aparecer nessas exposições. Entre nós dois, nós sabíamos que eu estava ali, num canto escuro, sentado no chão ao seu lado. Você iria arrastar seu vestido de gala até o meio das pernas e sentar em forma de índio contra a parede. Eu te acompanharia, e você sendo a criança hiperativa que era passaria o resto de evento brincando com meus dedos, a ponta de seus cabelos, trançando nossos fios, trocando mensagens com sua mãe no celular, ou suspirando alto e perguntando por que diabos, ou melhor, que porra leva o artista da noite a se esconder de todos no meio de sua exposição?! Eu só riria anasalado e deixaria você brincar com meus dedos mais um pouco. No início, vou admitir, nem eu sabia. Hoje em dia, no entanto, acho que sei melhor a resposta. A verdade é que, num cômodo cheiro de arte, eu ainda iria olhar para você. Cheesy. Eu olho para todas as obras que já fiz, meros retratos e tentativas falhas de imitar suas expressões, e então olho para a verdadeira obra prima - ao vivo e em cores, ao meu lado, com suas pernas de índio e cabelos trançados - e eu mesmo me questiono; o que leva as pessoas nesse lugar a admirarem aquelas telas insignificantes quando podiam se juntar a mim e observar a verdadeira musa, obra-prima de Deus? Enquanto aquelas são meras telas brancas com tinta espirrada, tentando imitar o contorno de seu maxilar, ou a tonalidade de sua pele, ou o brilho em seus olhos, você é... você. A união da lua, estrelas e todos os sóis desse universo. Feita de luz, energia, vibrante; você pulsa. Eu poderia observar todos seus detalhes por uma eternidade e meia. Decorar sua textura, observar seus tons, admirar as formas; tudo isso vale mais que todos os quadros que já criei, que já criaram. Monalisa inveja seus contornos. Michelangelo voltaria a ver se soubesse da existência de tal criatura. Da próxima vez que você me perguntar, então, o que me leva a ignorar um cômodo cheio de pinturas, eu responderei cheio de açúcar: por que a obra-prima permanece na minha frente.

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