
Eu costumava colocar você em cima da bancada e gostava de ficar entre suas pernas encarando a forma como você sorria, molhando os lábios. Sempre esperava por algo mais, como um arrastar de línguas ou uma mão escorregadia, mas eu gostava de ficar lá. Só. Observando teu sorriso tímido, bochechas vermelhas, envergonhada depois de ser observada por tanto tempo. A pulsação do teu sangue enviado para as bochechas não chegava nem perto da batida de tambor que meu coração criara, num ritmo que dizia, claramente, euteamo.euteamo.euteamo.
Você era capaz de ouvir? Eu sempre rezei para que fosse, porque eu nunca conseguia realmente dizer e você sempre disse que quando eu dizia soava feito mentira na boca. Amarga. É que me ensinaram que a gente ama com gesto, e não com palavra. Movendo a boca, mas não do jeito que você pedia para que eu o fizesse. Ou pedia, mas eu nunca soube realmente como fazê-lo. Porque eu sempre quis. Só. Observar você. E eu acho que você começou a ficar cansada dessa falta de ação, de mãos em contato com pele, de boca contra boca.
Eu penso que disso você não pode reclamar. Eu sempre quis colar tua boca na minha e escrever céu no inferno da tua língua. Mas acho que eu pensava muito, e nunca fazia. No final das contas, até me ensinaram isso. Eu é que não aprendi. Então não amei, nem demonstrei que o fiz.
E é tudo mentira. Porque eu te amei e te amo que nem louca, vadia, maluca; eu prostitui o meu amor por você. Fiquei suja, despi todo meu sentimento e o dei pra você chamando de amor. Mas o que eu achava que era amor você chamou de descaso e eu triste procurei em mim razão pra não conseguir doar pra você tudo que você dava pra mim.
Você deu, e deu muito. Deu nua, crua, todo seu amor e essência, e eu guardei pra mim, grata e sem acreditar que alguém podia fazer isso por mim. (Ainda é meio insano a ideia de alguém gostando de mim.) E você o fez. Você me amou, doou pra mim. E eu guardei tanto de você que, com medo que escapasse, acabei não doando nada de mim de volta receando que tivesse se misturado com teus pedaços, os que você meu deu.
No final das contas, acabou que foi assim mesmo. Acabou. E os pedaços que você me deu se misturavam com o inteiro que era meu, e eu descobri que estava incompleta uma vez que você retirou esses pedaços e só ficou em mim a memória do roçar de lábios, das promessas que eles significavam, e de tudo que você havia doado pra mim.
Mas eu acho que quando você se dá pra uma pessoa, não dá realmente pra você tomar de volta o que alguém já reclamou como nosso. Sempre vai sobrar alguma coisa que você esqueceu de pegar de volta, como um par de meias ou um perfume metade usado.
Eu nem gosto de perfume. Mas você deixou o seu comigo, e eu passei a usar ele só pra lembrar de você. E hoje em dia eu encontro você em mim e no meu cheiro, por causa do seu perfume, e eu gosto de pensar que é por isso que a gente tinha que ficar junta. Pra você doar suas coisas pra mim, e esquecer seu perfume quando as pegou de volta.
Essa é só uma analogia boba pra dizer: obrigada. Teu perfume, tuas maneiras, elas me ensinaram a gostar de cheiro enjoativo, e me fizeram ver de outro jeito tanta coisa e eu cresci tanto contigo. E dizem que é pra isso que relacionamento serve, né? Pra crescer. Você deve saber, porque os conhece mais que eu. É o que dizem.
O que eu tiro disso é que, talvez, a gente tenha dado certo. Até que não foi mais necessário que a gente desse, que você doasse, que me ensinasse. O problema é que eu sempre gostei de aprender. E aqui estou eu, de novo, com analogia sem nexo só pra dizer que acabei amando você, logo quando você desistiu de esperar pelos meus beijos na bancada e eu te fiz descer dela porque era egoísta demais pra aceitar teu desinteresse, quando tudo que você fez nesse relacionamento foi guardá-lo pra si.
Nenhum comentário:
Postar um comentário