quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Tu - Luna.

Esse texto definitivamente não saiu como planejado. Eu pretendia escrever um poema, ou falar alguma coisa sobre o Trump, mas saiu isso daqui. Isso, que é mais uma de minhas falhas tentativas de ser poeta, e que nas mãos de quem faz poesia sairia melhor. Mas. Vamos lá.



Disseram-me uma vez que eu precisava articular melhor minhas palavras. Estender meu vocabulário. Como, me pergunto, se a única palavra que consegue sair de minha boca é tua? Tua, inteira e indiscutivelmente tua. Tua meu corpo, lhe entregando a alma. Tua até nas músicas e em todos os sons. Tua, inconfundivelmente tua. Tua desde a raiz marrom dos cabelos até as pontas cor-de-palha. Tua, da unha do pé direito, majestosamente pincelada de vermelho, passando por todas meu sangue que é teu, entrando pela veia cava que é tua, saindo pela aorta que você já dominou, fazendo caminho por minhas circulações nervosas  que só sabem gritar agoniadamente sou tua — e terminando na unha mal-pintada do pé esquerdo. Ela também é tua. Os calos dos meus dedos que tanto escrevem tua são teus. A linha curvada de meu lábio superior é teu. O ar que respiro  quero que seja teu, pego da tua boca e sugado para minha com o entrelaçar de nossas línguas enquanto você me faz mais sua. Nua, crua, tua. Então eu peço perdão se mal consigo escrever um texto que não teu, que não consiga dizer nada além de sinônimos teus (o movimento que minha língua faz enquanto falo também é teu), mas sou tão terrivelmente sua, minhalmameucorpomninhaspalavrastuaboca. Sou tua desde que sugou meu lábio pela primeira vez, pedindo passagem - era tua muito antes. Deve ter sido aí que tomaste posse de minhas (tuas) palavras. Sugaste de minha língua e eu, já tão entregue a ti, deixei que todo meu alfabeto fluísse pela língua -que é tua- e foste parar na sua boca. E eu, tola, tua, deixei que você sugasse meu dicionário e palavras e saliva e ar e agora respiro fraca pois até minha respiração você tomou, e meus pulmões -teus- ficam comprimidos por serem de outro alguém. Por serem seus.

Eu me entreguei tão livremente, espontânea, alienada; e agora você está lá, com ela, fazendo-a de tua enquanto eu tenho aqui tudo que é teu.

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