Um, dois,
três... não adiantava, podia chegar ao infinito e não conseguiria dormir. Já
deviam se passar da meia noite e ela mantinha-se acordada. Sabia que tinha que
acordar cedo na manhã seguinte, mas sentia-se tão extasiada que não conseguia
regularizar nem mesmo sua respiração; ainda sentia o efeito do momento em cada
célula de seu corpo.
Passara a
tarde toda pensando naquilo, sem realmente conseguir se concentrar em nada
mais. Tinha deixado tantos trabalhos aquele dia incompletos que via a hora em
que sua mãe escancararia a porta do quarto ao notar a gordura ainda presente
nos pratos dentro do armário. Acabaria sem poder fazer nada no próximo dia, mas
quem ligava?
Brincando com
os lábios nas pontas dos dedos, ainda podia senti-los serem esmagados quando
fechava os olhos.
Um beijo. Um
beijo fora necessário para que ela se derretesse aos pés dele. O que era
aquilo, santo Deus? Estava completamente submersa naquele mar negro que a
encarara horas atrás.
Ela se
lembrava de estar caminhando pelo parque antes de encontra-lo. Quer dizer, ele
a encontrara e vinha seguindo-a por uns bons quilômetros enquanto corria, mas
com seus fones de ouvido, ela não conseguiria ouvir muita coisa até chegar ao
fim de seu percurso, quando, suada e nada apresentável, quase esbarrara nele.
Tinha certeza de que ele estava atrás dela antes, mas não pôde perguntar o
porquê, pois seus lábios foram imprensados no momento seguinte e ela se
ocupou apenas com a sensação de ser beijada pela boca carnuda pertencente ao
indivíduo a sua frente.
A primeira
coisa que pensou foi que, puta merda, como aquele cara beijava bem.
Ainda
embriagada pelo êxtase, notou o cheiro de suor misturado com creme de barbear
que emanava dele e, por fim, sentiu o gosto. Era algo gélido, que com o choque
arrepiara sua nuca, mas também era quente, despertando sensações das quais ela
sentia falta por todo seu corpo.
Quando o
beijo acabou e ela encarou-o, pôde ouvir algo como um "você devia correr
mais devagar, garota" e viu-o ir embora, levando com ele, bem firme
em suas mãos, uma chave que ela nem sabia existir. (Estão preparados para o
mimim, certo?) Uma chave que abria a porta para uma manada de sentimentos
atravessarem sua pele sem nenhuma permissão.
Tocando nos lábios como estava fazendo agora, ela deixou escapar uma risada melancólica. "Bem vinda de volta", ela sentia seu coração gritar.
Tocando nos lábios como estava fazendo agora, ela deixou escapar uma risada melancólica. "Bem vinda de volta", ela sentia seu coração gritar.
Caralho, como
isso fora acontecer?
Ela esmurrou
a almofada, mas ainda mantinha aquele sorriso no rosto. Queria gargalhar alto
por todos os pensamentos que passavam por sua cabeça, mas tinha dois gêmeos ao
lado que demorariam de dormir novamente caso acordados.
Vendo a tela
do celular piscar duas vezes na escrivaninha ela correu para ver a mensagem que
recebera.
Talvez amanhã eu consiga alcançá-la
mais rápido.
Aquilo não era
uma pergunta.
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